Recorrência


Na minha puberdade (palavra já praticamente em desuso), eu sonhava recorrentemente com infestações que ocorriam em alguma partes específicas de meu corpo, anunciado assim, para breve, um estado patológico mais complexo. Eram pequenos bastonetes em uma área de 4 a 6 centímetros quadrados que indicavam o contágio. Outras vezes era um contágio sutil, quase psicológico, que evoluiria para uma devastadora enfermidade. Embora o recorte histórico deste comentário dê-se nos anos 80, em momento algum estes sonhos evoluíam para a melecância (neologismo meu) que caracterizava os contágios no imaginário cinematográfico do período. De modo geral era uma pequena evidência, que no decorrer do sonho ameaçava-me com a possibilidade de desaparecimento gradual ou o homizidiamento de minha consciência ante este invasor. Quando encontrei a imagem acima nos meus arquivos me lembrei destes sonhos (apesar de, admito, possuir uma certa melecância). Não tenho a menor idéia do que ela representa, nem pretendo especular sobre isto. No entanto, olhando-a ela me causa uma mistura de horror e fascínio. Por estranho que pareça, a palavra portuguesa que melhor exprime este sentimento é formidável. A definição dicionarizada de formidável é: algo admirável, impressionante, de forma incomensurável, mas, também, pavoroso, terrível e amedrontador (apesar de todos nós sabermos não ser este o seu uso corriqueiro no Brasil).

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